Discurso da deputada Maria del Carmen

Confiram o discurso da Deputada Maria del Carmen,durante a sessão especial em comemoração ao Dia do Engenheiro, realizada na sexta-feira, dia 11 de Dezembro de 2015.

 

Bom dia a todos e todas!

Primeiro, gostaria de cumprimentar e agradecer a todos e todas que nos prestigiam com suas presenças.

Esta é uma manhã especial para quem, dia após dia, tem se dedicado a dar sua contribuição na construção do melhor caminhos para o desenvolvimento do nosso Estado e do nosso País.

Mas me permitam, senhoras e senhores, revelar a emoção que hoje sinto ao subir a Tribuna desta Casa para homenagear aos colegas engenheiros e engenheiras das diversas especialidades, ao me recordar daquela garotinha, filha e neta de emigrantes galegos, que aos cinco anos se apaixona por esta nossa cidade ao vê-la pela primeira vez do convés de um navio, após 13 longos dias de travessia e que aos oito anos já tinha decidido que estudaria engenharia e, foi crescendo e acalentando este sonho.

Aos 15 anos, o presente mais festejado foi uma régua de calcular, presenteada por um tio avô materno. Ele já tinha decidido que eu teria que preparar para trabalhar na pequena empresa familiar e, por isso, ser contadora.

Foi um desafio maior que enfrentar o vestibular da Ufba ou os gritos dos estudantes de engenharia, na primeira vez que adentrei na nossa querida Escola Politécnica e atravessei os seus pátios e os corredores aos gritos de “mulher, mulher, mulher!”, que os mais antigos como eu bem se recordam.

E a emoção daquela jovem que enfrenta a família e o preconceito de ser mulher (na nossa turma eram apenas oito entre 200) continua presente, aqui e agora, ao prestar esta homenagem aos profissionais que tiveram pelas mãos do presidente Getúlio Vargas, naquele 11 de dezembro de 1933, sua profissão regulamentada.

O papel destes e destas profissionais da engenharia em todas as suas especialidades é percebido ao olharmos apenas para o nosso entorno. Estamos presentes desde a construção de casos simples até nas construções imponentes, de pequenos conjuntos habitacionais a arranhas- céus, de calçadas à rodovias, de metrôs a aeroportos, de naves espaciais a medicamentos de última geração, da agricultura familiar à extração de petróleo em águas profundas, de torres eólicas à comunicação. Enfim, em todos os aspectos da necessidade humana de criar, progredir, viver melhor e com mais conforto, há a figura de um engenheiro ou de uma engenheira.

E neste dia 11 de dezembro, em que também se comemora o aniversário do sistema CONFEA/CREA, aproveitamos para homenagear os 150 anos de nascimento do engenheiro Arlindo Fragoso.

Arlindo fez os primeiros estudos em Portugal e, retornando a Salvador, estudou no Colégio Alemão e no Colégio Sete de Setembro. Formou-se em 1885, pela Escola Politécnica do Rio de Janeiro, quando recebeu o diploma de engenheiro civil e o título de bacharel em matemática.

Baiano de Santo Amaro, Arlindo Fragoso tem em sua biografia a fundação do Instituto Politécnico, da atual Escola Politécnica da Ufba e da Academia de Letras da Bahia; ocupou cargos de conselheiro e intendente (prefeito) de Santo Amaro e de diretor no Ministério da Indústria, Viação e Obras Públicas; participou como ativista do movimento abolicionista e em duas eleições como deputado federal, além de ter publicado livros e artigos sobre economia, política e diversos textos de peças de teatro, tendo sido responsável pela construção do Pavilhão da Bahia em, 1908.

Entre 1912 e 1916, ele também assumiu a Secretaria Geral do Governo JJ Seabra, tornando-se responsável pela realização de grandes obras aqui na cidade de Salvador, como o novo traçado da Avenida Sete de Setembro e aterros da Cidade Baixa. Participou ainda da reconstrução do Palácio Rio Branco e da ampliação do Porto de Salvador. Sua atuação era semelhante a de um primeiro-ministro, responsável pela condução dos negócios do Estado. Assim, participava das intervenções urbanas, das atividades em áreas como educação, saúde, obras prediais e de engenharia.

Mas, embalado pelo exemplo do profissional competente, dedicado e de visão estratégica que foi Arlindo Fragoso para a engenharia da Bahia e do Brasil e à sua destacada atuação na gestão pública é que temos que reconhecer a importância do nosso setor para economia nacional, representando 15% do PIB nacional e empregando 22% da mão de obra do mercado brasileiro, tendo impacto fundamental no comércio, transportes e logística, por exemplo.

Entretanto, em função da Operação Lava Jato, as obras de infraestrutura estão sendo paralisadas e os pagamentos às empresas de engenharia estão sendo suspensos, causando impacto negativo no PIB, aumento do desemprego e queda nos investimentos.

Apoiamos as investigações e os processos contra aqueles que, comprovadamente, participaram de ações criminosas, mas as empresas são as empresas e pessoas são pessoas. Que os culpados sejam punidos, mas que os trabalhadores e os investimentos não sejam prejudicados em função disso.

Neste dia de festa, também é oportunidade para refletirmos sobre a importância dos profissionais da Engenharia, Agronomia e áreas afins na construção de qualidade de vida e do atendimento a demandas sociais, assim como a necessidade de busca constante da valorização profissional; da formação profissional; da presença das mulheres nestas áreas tecnológicas; sobre a necessidade de implantação da Engenharia Pública voltada a comunidades que não têm recursos para contratar um profissional habilitado; e ainda sobre a necessidade de mais engajamento dos profissionais para que a priorização de ações voltadas à área tecnológica seja pauta política; e da representatividade que é preciso ter para definir e influenciar na aplicação e destinação de recursos, por exemplo.

Temos um papel muito importante no processo de desenvolvimento e não podemos deixar de nos posicionar neste momento de crise econômica e política instaurada por aqueles que querem chegar ao poder através de atalhos e não através do voto popular.

Não podemos também deixar de frisar que temos a responsabilidade de militar por cidades mais iguais, com desenvolvimento urbano associado ao combate de impactos socioambientais.

Salvador, por exemplo, será mais igual quando as várias regiões que a compõe tiverem as mesmas condições, quando a cidade for de todos nós efetivamente. E, para que isso aconteça, o papel dos engenheiros e engenheiras é fazer o possível para que a cidade possa ser inclusiva, participando da promoção de debates, como fazem o CREA, o SENGE e outras entidades, para que a população possa interferir em decisões que dizem respeito ao seu cotidiano. Só assim conseguiremos ter cidades melhores, mais inclusivas, com melhores condições de vida.

Isso é o que estamos discutindo ao longo desses últimos cinco anos, aqui, na Assembleia Legislativa da Bahia, em que seguimos na direção de dar nossa contribuição para que esse processo possa, de fato, acontecer, para que possamos, juntos, construir cidades para todos e todas. Afinal, a engenharia transforma o cotidiano das pessoas por meio de cada uma das suas modalidades.

E nossa perspectiva é que a posse da Frente Parlamentar em Defesa da Engenharia, Arquitetura e áreas afins – aprovada com unanimidade nesta Casa – ocorra logo após o recesso parlamentar. Conclamamos a todas as entidades profissionais, a exemplo do que já fez o CREA e o SENGE, possam participar desta Frente.

Para finalizar, reafirmamos o nosso compromisso com a Engenharia, a Bahia e o Brasil.

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